“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo e tome, a cada dia, a sua cruz e siga-me.”
(Lucas 9, 23)
“Feliz quem teme o Senhor e segue seus caminhos. Viverás do trabalho de
tuas mãos
viverás feliz e satisfeito” (Sl 127,1). Deus nos criou como
participantes da vida
da natureza, do mundo, e responsáveis por eles.
Olhar em torno de nós é nos encontrarmos
em casa e nos dispormos a
edificar com serenidade o lar comum, com as peças
da fraternidade e da
solidariedade.
Segundo o plano do Senhor, temos
condições para realizar tal tarefa, ainda que
com inquietante
frequência, nossas ações pareçam justamente destruir a obra de Deus
e de
tantas gerações. É que convivemos com o doloroso mistério do pecado
cuja presença já as primeiras páginas da Bíblia constataram.
Desde o
princípio, parece que apraz à humanidade fazer o jogo da violência
como
crianças e adolescentes em brincadeiras eletrônicas, tantas delas
montadas
em plataformas de destruição recíproca. Incrível é ver quantos
marmanjos
de idade ou estatura avançada se dedicam a tais “retratos da
vida”!
Ao formar Seus discípulos, Jesus lhes
propõe um jogo diferente *
cujas peças têm nomes que
se tornam caminhos de realização e salvação.
A
primeira delas é “Se alguém quer”. Para dar o segundo passo, é preciso
“seguir”.
A terceira peça é “renuncie a si mesmo”, e a quarta: “tome a
sua cruz”.
Regra do jogo: “quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la”.
Deus nos ofereceu o precioso dom da liberdade, dando-nos a possibilidade de nos comprometermos com o Seu plano. Os objetivos escolhidos na vida estabelecem os rumos a serem percorridos.
Quem começa mal, escolhendo metas limitadas, já compromete a corrida da
existência. Não fomos feitos apenas para ter casa própria, bom emprego,
carro novo, muito dinheiro no banco. Deixemos que o Senhor nos pergunte
sobre o que queremos efetivamente! Ideal digno dos homens e mulheres
que Deus criou e que somos nós, é justamente aquele que foi descrito nas
primeiras páginas da Sagrada Escritura (cf. Gn 1-2):
Deus, reconhecido como Criador e Pai de
todos, homens e mulheres feitos
à Sua imagem, com inteligência e
liberdade, a fraternidade e o senhorio
em relação à criação. Poucas
palavras que refletem o plano de Deus. Para entrar no jogo da vida,
saber decidir! Renunciar a si mesmo! Trata-se de mudar o
eixo da existência
quando os impulsos da natureza pedem acúmulo de bens
e afetos.
A maturidade humana efetiva só pode acontecer quando um homem
ou
uma mulher alcançam essa altitude. Muitas pessoas só conseguirão dar
esse passo
nos instantes derradeiros da existência nesta terra, quando
tiverem que
se desapegar de tudo, pois deverão apresentar-se diante do
Criador.
É melhor antecipá-lo! É mais saudável viver não para si, mas para Deus e o próximo
e não são poucos os exemplos de gente que soube fazer essa mudança.
A decisão do cristão comporta o
seguimento. A palavra “discípulo” indica
a escolha feitaquando se
escolhe ir atrás de alguém, com coração e ouvido aberto
pronto a pisar
no mesmo rastro daquele que foi reconhecido como Mestre.
E como não
faltam mestres entre as muitas companhias que nos são oferecidas
pelo
caminho, a proposta é escolher Jesus: “Deu-me o Senhor Deus uma língua
habilidosa
para que aos desanimados eu saiba ajudar com uma palavra.
Toda manhã ele desperta meus ouvidos para que, como bom discípulo
eu
preste atenção. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não fiquei
revoltado
para trás não andei” (Is 50, 4-5).
Os discípulos chamados pelo Senhor Jesus tiveram surpresas. Uma delas, que assustou
de forma especial aquele que
tinha sido declarado “Pedra” (Cf. Mt 16, 21-23)
foi a cruz. Carregá-la
com disposição é regra de jogo na vida cristã.
Não se engane quem quer
empreender essa estrada, mas decida-se a abraçá-la.
Tomar a cruz
não significa cultivar um gosto doentio pelo sofrimento ou
os muitos
incômodos da vida, pois a dor sozinha não gera frutos.
Cruz
significa transformar, como escolha livre, todos os atos da existência
em amor a Deus e ao próximo, saindo de si mesmo para fazer o bem.
Quer dizer encontrar o caminho diário da salvação, olhando para o alto
no amor a Deus, e abrir os braços no amor ao próximo.
Na confluência
dos dois amores se eleva a cruz e esta vem a ser abraçada e não
arrastada.
A regra de vida a ser acolhida pelo
cristão e proposta a todas as pessoas que desejam
a felicidade autêntica
é assim descrita por Jesus, num encontro que desencadeou
nova etapa na
vida de Seus discípulos. É que a novidade era tão grande que
o Senhor
precisou acompanhá-los bem de perto, aproveitando as lições do caminho a
ser percorrido, para aprenderem o jeito novo de viver (cf. Mc 8,
1-10,52).
“Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei
seduzir! Foste mais forte do que eu
e me subjugaste! Tornei-me a
zombaria de todo dia, todos se riem de mim.
Sempre que abro a boca é
para protestar! Vivo reclamando da violência e da opressão!
A palavra de
Deus tornou-se para mim vergonha e gozação todo dia.
Pensei: ‘Nunca
mais hei de lembrá-lo, não falo mais em seu nome!’
Mas parecia haver um
fogo a queimar-me por dentro, fechado nos meus ossos.
Tentei aguentar,
não fui capaz” (Jr 20,7-9).
Quando tantos podem pensar que as regras
propostas por Deus não atraiam
eis que muita gente se dispõe a seguir o
Senhor, aceitando passos do jogo da vida
que parecem absurdas. No
entanto, são elas o caminho da felicidade verdadeira.
O contato com
Deus, visto inclusive pelos profetas como verdadeira
sedução, atrai as
pessoas. Que mais pessoas aceitem esse jogo, no qual
a vitória é certa,
pois as partes envolvidas são o Céu e a Terra. Deus ama a humanidade
e a
faz parceira na construção de um mundo diferente!
“Quem quiser salvar
sua vida a perderá; e quem perder sua vida
por causa de mim a
encontrará. De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?” (Mt 16, 25-26)*(Cf. Mt 16, 21-27)*(Cf. Mt 16, 24-25).
Dom Alberto Taveira Corrêa
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