Em alguns períodos difíceis de nossas vidas, enquanto
cristãos e cristãs, podemos detectar em nós alguns dos sintomas da tibieza,
entre os quais a frieza, a apatia, o desânimo, a insatisfação com Deus e
conosco mesmo, a falta de estímulo, do desejo ou da disposição para a oração
diária e até mesmo a falta de forças para decidir por algo ou desistir de
alguma coisa. Se você está sofrendo deste mal, não se desespere: é uma situação
comum na vida dos cristãos, e o único remédio conhecido é infalível: você precisa de humildade para se reconhecer
dependente de Deus, e de persistência para buscá-lo, mesmo que não sinta a sua
Presença.
É preciso, em primeiro lugar, tomar consciência da sua
condição de necessitado(a) de uma renovação constante do Espírito de Deus em
sua vida. A oração constante e a abertura à ação da Graça divina farão de você
um homem ou uma mulher fervoroso(a), capacitados pelo Espírito a transbordar no
mundo o Amor infinito de Deus.
Uma alma tíbia é uma alma morna, fraca, preguiçosa,
desanimada e sem fervor. Esta "doença da alma" traz sérias
consequências, - não só para a nossa vida espiritual, mas afeta todas as
realidades da nossa existência, em muitos casos até mesmo nossa saúde física. -
Essa doença é consequência do pecado e desenvolve-se com facilidade nas almas
que são inimigas das renúncias, dos sacrifícios da oração diária. Nos que
possuem uma natureza indolente e preguiçosa, a disciplina precisa ser buscada,
perseguida, cultivada todos os dias... O fiel precisa persistir no Caminho da
santificação, mesmo (e principalmente)
quando lhe parecer impossível.
Mas pouco adianta dizer, simplesmente, que é preciso aplicar
à doença da tibieza o remédio da humildade e da persistência. Seria como dizer
a um doente que o remédio para ele é a saúde, sendo que é exatamente este o seu
problema: a falta de saúde.
No âmago da questão, a verdade mais profunda é que o único
remédio contra a tibieza é o Espírito Santo, porque não existe verdadeiro
fervor por Deus se não for inflamado pelo Fogo do Espírito. O pecado endurece o
coração e torna a pessoa indiferente a Deus. O Espírito nos aponta as raízes do
pecado, fortalece-nos para a batalha, fecunda em nós os seus dons,
purifica-nos, aquece e inflama o nosso ser.
O Espírito Santo é em nós como o fogo quando se apega à
lenha úmida: primeiro a expurga, arrancando-lhe com estalos todas as impurezas,
depois a inflama progressivamente, até que se torne toda incandescente e ela
mesma se transforme em fogo. Ele, que faz novas todas as coisas, quer fazer
fervorosos, animados e ativos as pessoas tíbias.
Concretamente, isto quer dizer que o Espírito Santo nos
preserva de cair na tibieza, e se por acaso já nos encontrarmos neste estado,
livra-nos dela. É impossível sair da tibieza sem uma intervenção decisiva do
Espírito; se tentarmos fazê-lo por nossos próprios esforços, mergulharemos
ainda mais no pecado do orgulho.
Olhemos para os Apóstolos antes de Pentecostes: eram tíbios,
incapazes de vigiar uma hora, discutindo sobre quem seria o maior, incapazes de
entender a Mensagem de Cristo e fugiram diante da ameaça. Depois que o Espírito
veio sobre eles, tornaram-se a imagem viva do zelo, do fervor e da coragem.
Fervorosos no pregar, no adorar a Deus, no iniciar e organizar as comunidades
da Igreja e, enfim, até no sacrificar a vida por Cristo.
Cirilo de Jerusalém escreve: "Os Apóstolos receberam o
Fogo que queima os espinhos dos pecados e dá esplendor à alma", e um
escritor medieval escreve: "O Paráclito que, em línguas de Fogo, desceu
sobre os Apóstolos e os discípulos, desce também sobre nós como fogo: para
queimar e destruir a culpa, para purificar a natureza, para consolidar e
aperfeiçoar a Graça, para expulsar a preguiça de nossa tibieza e acender em nós
o fervor do seu Amor" (Hermann de Runa, Sermões Festivos, 31).
Muitos santos passaram por um longo período de tibieza, mas
nenhum deles foi santo sem ter sido transformado pelo poder e ação viva do
Espírito Santo:
"Passei nesse mar tempestuoso quase vinte anos, ora
caindo ora levantando. Mas levantava-me mal, pois tornava a cair. Tinha tão
pouca perfeição que, por assim dizer, nenhuma conta fazia de pecados veniais.
Se temia os mortais não era a ponto de me afastar dos perigos. Sei dizer que é
uma das vidas mais penosas que se possa imaginar. Nem me alegrava em Deus, nem
achava felicidade no mundo. Em meio aos contentamentos mundanos, a lembrança do
que devia a Deus me atormentava. Quando estava com Deus, perturbavam-me as
afeições do mundo" (Santa Teresa de Jesus, Vida, 8,2).
Quando invocamos o Espírito, clamamos: "Vinde, Espírito
Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso
amor", mas às vezes este clamor também é frio, porque fria é a nossa
esperança. Com o auxílio da graça, porém, é possível sair da tibieza e
passarmos da condição de tíbios frios e temerosos a animados e fervorosos no
Espírito.
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