quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A GERAÇÃO QUE TUDO IDEALIZA E NADA REALIZA

Demorei sete anos (desde que saí da casa dos meus pais)
para ler o saquinho do arroz que diz quanto tempo ele deve
 ficar na panela. Comi muito arroz duro fingindo estar
“al dente”,muito arroz empapado dizendo que “foi de
propósito”. Na minha panela esteve por todos esses anos
a prova de que somos uma geração que compartilha sem ler
defende sem conhecer, idolatra sem porquê. Sou da geração
que sabe o que fazer, mas erra por preguiça de ler o manual
de instruções ou simplesmente não faz.

Sabemos como tornar o mundo mais justo, o planeta mais
sustentável, as mulheres mais representativas, o corpo mais
saudável. Fazemos cada vez menos política na vida
(e mais no Facebook), lotamos a internet de selfies em
academias e esquecemos de comentar que na última festa
todos os nossos amigos tomaram bala para curtir mais a noite.
Ao contrário do que defendemos compartilhando o post da
cerveja artesanal do momento, bebemos mais e bebemos pior.

Entendemos que as bicicletas podem salvar o mundo da
poluição e a nossa rotina do estresse. Mas vamos de carro
ao trabalho porque sua, porque chove, porque sim.
Vimos todos os vídeos que mostram que os fast-foods
acabam com a nossa saúde – dizem até que tem minhoca
na receita de uns. E mesmo assim lotamos as filas do
drive-thrru porque temos preguiça de ir até a esquina
comprar pão. Somos a geração que tem preguiça até de
tirar a margarina da geladeira.

 Preferimos escrever no computador, mesmo com a letra
que lembra a velha Olivetti, porque aqui é fácil de apagar.
Somos uma geração que erra sem medo porque conta
com a tecla apagar, com o botão excluir. Postar é tão fácil
(e apagar também) que opinamos sobre tudo sem o peso
de gastar papel, borracha, tinta ou credibilidade.

Somos aqueles que acham que empreender é simples
que todo mundo pode viver do que ama fazer.
Acreditamos que o sucesso é fruto das ideias, não do suor.
Somos craques em planejamento Canvas e medíocres
em perder uma noite de sono trabalhando para realizar.

 Acreditamos piamente na co-criação, no crowdfunding e
no CouchSurfing. Sabemos que existe gente bem intencionada
querendo nos ajudar a crescer no mundo todo, mas
ignoramos os conselhos dos nossos pais, fechamos
a janela do carro na cara do mendigo e nunca oferecemos
o nosso sofá que compramos pela internet para os filhos
dos nossos amigos pularem.

Nos dedicamos a escrever declarações de amor públicas
para amigos no seu aniversário que nem lembraríamos
não fosse o aviso da rede social. Não nos ligamos mais
não nos vemos mais, não nos abraçamos mais.
Não conhecemos mais a casa um do outro, o colo um
do outro, temos vergonha de chorar.

Somos a geração que se mostra feliz no Instagram e soma
pageviews em sites sobre as frustrações e expectativas de
não saber lidar com o tempo, de não ter certeza sobre nada.
Somos aqueles que escondem os aplicativos de meditação
numa pasta do celular porque o chefe quer mesmo é saber
de produtividade.

Sou de uma geração cheia de ideais e de ideias que vai
deixar para o mundo o plano perfeito de como ele deve
funcionar. Mas não vai ter feito muita coisa porque estava
com fome e não sabia como fazer arroz.


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