sexta-feira, 24 de abril de 2015

QUEM VOS OUVE, A MIM OUVE

A origem da hierarquia da Igreja e a sucessão apostólica

A primeira sucessão apostólica encontramos nas páginas da Bíblia Sagrada. No Novo Testamento
 lemos, no capítulo 1 dos Atos dos Apóstolos, como S. Pedro declarou a vacância do posto
(ministério) de Judas Iscariotes e apontou a necessidade de que alguém a ocupasse:

Naqueles dias, Pedro se pôs de pé em meio aos irmãos – o número de pessoas reunidas era de
cerca de cento e vinte – e lhes disse: 'Irmãos, era preciso que se cumprisse a Escritura, em que
o Espírito Santo, pela boca de Davi, havia falado acerca de Judas, que guiou aqueles
que prenderam Jesus. Porque ele era um de nós e obteve um posto neste Ministério
convém, pois, que dentre os homens que andaram conosco todo o tempo em que Jesus viveu
entre nós, a partir do batismo de João até o dia em que nos foi levado, um deles seja
constituído testemunha conosco de sua ressurreição. Apresentaram dois: José, chamado
Barsabás, de sobrenome Justo, e Matias. Então oraram assim: 'Tu, Senhor, que conheces
os corações de todos, mostra-nos qual destes dois elegeste para ocupar no ministério do
apostolado o posto do qual Judas desertou para ir para onde lhe correspondia'.
Lançaram a sorte e caiu sobre Matias, que foi agregado ao número dos doze Apóstolos."
(At 1,16-17.21-26).


Prova bíblica da instituição dos presbíteros por meio dos 

Apóstolos ou outros presbíteros previamente ordenados

Como vimos, está claríssima a consciência que tinham os Apóstolos de que o seu ministério
não deveria permanecer vacante (posteriormente este ministério será desempenhado pelos bispos).
Também estavam conscientes da obrigação que tinham de que seus sucessores poderiam exercer
seu ministério de forma plena, organizando igrejas (dioceses e paróquias) e colocando à sua frente
 homens capazes. Assim, vemos como o livro dos Atos dos Apóstolos revela que uma das principais atividades dos Apóstolos era fundar igrejas e designar presbíteros para elas:
Designavam presbíteros em cada igreja e, após fazer oração e jejuns, os encomendavam
ao Senhor em Quem haviam crido." (Atos 14,23)

No começo, os presbíteros eram nomeados exclusivamente pelos Apóstolos; posteriormente
também por outros presbíteros já ordenados. Não existia, como jamais existiu no verdadeiro cristianismo
o que se costuma ver em igrejas "evangélicas", onde alguém que possua certas capacidades ou
aptidões simplesmente funda uma nova "igreja" e toma nela, por conta própria, o posto de "pastor".

Exemplos claros encontramos nas epístolas paulinas, onde S. Paulo menciona a ordenação de
Timóteo como presbítero através da imposição das mãos, e o exorta a não instituir a qualquer pessoa
como presbítero (evidente que, ainda mais, ninguém poderia se autoproclamar presbítero).

"Por isto te recomendo que reavivas o carisma de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos. Porque o Senhor não nos deu um espírito de timidez, mas de fortalezade caridade e de temperança. Não te envergonhes, pois, nem do testemunho que hás de dar de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro. Ao contrário, suporta comigo os sofrimentos pelo Evangelho, ajudado pela força de Deus, que nos salvou e nos chamou para uma vocação santa, não por nossas obras, mas por sua própria determinação e por sua graça que nos deu desde toda a eternidade em Cristo Jesus." (2Tm 1,7-9)

Não descuideis do carisma que há em ti, que te foi comunicado pela intervenção profética através da imposição das mãos do colégio de presbíteros." (1Tm 4,14)
Não te precipites a impor as mãos sobre alguém, nem participes dos pecados alheios. Conserva-te puro." (1Tm 5,22)

Voltamos a frisar o que afirma S. Paulo: que a ordenação de Timóteo se deu mediante a imposição
das mãos do colégio de presbíteros ou do "conselho de anciãos". Vemos então que os primeiros
presbíteros foram ordenados pelos próprios Apóstolos e os presbíteros seguintes foram ordenados
pelos Apóstolos ou por outros presbíteros previamente ordenados. O certo é que para que uma ordenação seja válida, é preciso que o aspirante seja ordenado por um presbítero que por 
sua vez tenha sido ordenado por outro presbítero, e assim sucessivamente, numa linha descendente que tem origem nos Apóstolos e, deles, ao próprio Senhor Jesus Cristo
que os elegeu. A esta legítima linha de sucessão chamamos "Sucessão Apostólica".
   
O mesmo ocorre com Tito, que também sendo um presbítero, é enviado por S. Paulo a organizar
as igrejas e instituir presbíteros para o seu governo:
"O motivo de ter-te deixado em Creta foi para que acabasses de organizar o que faltava e
estabeleceres presbíteros em cada cidade, como te ordenei." (Tt 1,5)

A finalidade era sempre clara:
"Tu, pois, filho meu, mantei-te forte na graça de Cristo Jesus; e do quanto me tens ouvido
na presença de muitas testemunhas, confiai-o a homens fiéis, que sejam capazes, por sua vez
de instruir a outros" (2Tm 2,1-2)

Em conformidade com o claríssimo testemunho das Sagradas Escrituras, também em documentos
extra-bíblicos antiquíssimos (desde o início do séc. II) é possível observarmos que a Igreja
primitiva já estava organizada hierarquicamente com o colégio de bispos, presbíteros e diáconos.

O bispo era o chefe de uma "igreja", isto é, de uma diocese, um conjunto de paróquias
 geograficamente organizadas. Cada paróquia tinha como ministro um presbítero; este era
o sacerdote responsável por ministrar os Sacramentos e orientar os fiéis na doutrina.

Era normalmente auxiliado por diáconos. Tudo isto é testificado, por exemplo, nas sete cartas
de Santo Inácio de Antioquia [1] datadas do ano 107 (escritas antes mesmo da organização
final dos livros da Bíblia). Santo Inácio foi Bispo de Antioquia e discípulo pessoal dos
Apóstolos S. Pedro e S. Paulo.


O Episcopado tem origem na Sucessão dos Apóstolos

Episcopado é o nome que se dá ao ministério do Bispo. O Episcopado tem origem no ministério
dos Apóstolos, como vimos. Isto é, foi o próprio Senhor Jesus Cristo Quem elegeu os Apóstolos
como Bispos da Sua Igreja, que Ele mesmo instituiu sobre a Terra (Mt 16,18). Com efeito, a Bíblia
ensina que Nosso Senhor deu o governo da Igreja aos Santos Apóstolos: "Quem vos ouve
a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e, quem me rejeita, rejeita àquEle 
que me enviou" (Lc 10,16).

Eles, os Apóstolos, estariam agora assentados na Cadeira de Moisés, e no lugar dos escribas
e Fariseus (cf. Mt 23,2-3). Por isso, o Cristo deu a eles a autoridade que outrora foi dada a Moisés:
 "ligar e desligar, atar e desatar", com o sentido de unir e desunir: definir o que é certo e o que é
errado em termos de doutrina verdadeiramente evangélica (cf. Mt 18,18). Por essa razão
São Paulo ensina que “a Igreja do Deus Vivo é a Coluna e o Fundamento da Verdade”
(cf. 1Tm 3,15).

Como os Apóstolos não permaneceriam conosco para sempre, e como o mundo é muito grande
nas várias regiões e nações aonde eles iam pregando o Evangelho, iam também instituindo novos bispos
que deveriam cuidar do rebanho de Cristo em sua ausência. – E, claro, após a sua morte também.
Afinal, Jesus prometeu que estaria com a sua Igreja até o fim dos tempos
e não até a morte dos Apóstolos (cf. Mt 28, 20).

Um dos testemunhos históricos mais antigos desta realidade está na Primeira Carta de São Clemente
 aos Coríntios (2), escrita por volta do ano 90 (dois séculos antes da composição final da Bíblia Cristã). Clemente, 4º. Bispo de Roma na sucessão de Pedro, escreveu:

(42) Os Apóstolos receberam do Senhor Jesus Cristo o Evangelho que nos pregaram.

Jesus Cristo foi enviado por Deus; Cristo, portanto, vem de Deus, e os Apóstolos vêm de Cristo. As duas coisas, em ordem, provêm da Vontade de Deus. Eles receberam instruções e, repletos de certeza por causa da Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, fortificados pela Palavra de Deus e com plena certeza dada pelo Espírito Santo, saíram anunciando que o Reino de Deus estava para chegar. Pregavam pelos campos e cidades, e aí produziam suas primícias, provando-as pelo Espírito, a fim de instituir com elas bispos e diáconos dos futuros fiéis. Isso não era algo novo: desde há muito tempo, a Escritura falava dos bispos e dos diáconos. Com efeito, em algum lugar está escrito: ‘Estabelecerei seus bispos na justiça e seus diáconos na fé’."

(44)Nossos Apóstolos conheciam, da parte do Senhor Jesus Cristo, que haveria disputas por causa da função episcopal. Por esse motivo, prevendo exatamente o futuro, instituíram aqueles de quem falávamos antes, e ordenaram que, por ocasião da morte desses, outros homens provados lhes sucedessem no ministério."

“A História Eclesiástica”[2], de Eusébio de Cesaréia, é outro dos mais rigorosos registros dos acontecimentos dos primeiros quatro séculos da Igreja, incluindo a realidade histórica da sucessão dos Apóstolos. Segundo a o ensinamento que os Apóstolos diretos de Jesus Cristo comunicaram aos seus discípulos, os bispos da Igreja são sucessores diretos dos Apóstolos. É exatamente por isso que, fora da Sucessão dos Santos Apóstolos, não há nem pode haver Episcopado verdadeiro: logo, não há Igreja de fato.


Ordenação Episcopal de Dom Júlio E. Akamine

Testemunhos históricos da Sucessão Apostólica

Alguns membros de algumas das novas seitas ditas "evangélicas" chegam ao extremo de alegar que a Sucessão Apostólica teria sido inventada pela Igreja Católica para sustentar que só ela possui bispos e presbíteros verdadeiros. Nada está mais distante da realidade, por tudo o que acabamos de ver e por muitos outros motivos, como o fato de que a Igreja Católica não alega que só ela possua bispos e presbíteros verdadeiros. Ela reconhece a validade dos ministros da Igreja Ortodoxa, que são também sucessores dos Apóstolos. – É no mínimo curioso como o subjetivismo protestante tenta inverter os fatos, querendo "reinventar" até a História! Não foi a Igreja Católica que inventou a Sucessão Apostólica: o protestantismo é que precisou inventar que a Sucessão dos Apóstolos não é um fato (ignorando as afirmações diretas das Sagradas Escrituras, que eles tem como regra de fé, juntamente com a farta documentação existente, os registros historiográficos, a arqueologia, etc.) pois esta é a maior prova de que as tais "igrejas", ditas "evangélicas", não são igrejas de fato, mas apenas seitas que deturpam o cristianismo original.


Conclusão

Desgraçadamente, sair por aí inventando “igrejas” e se intitulando a si mesmo "pastor", "bispo" e até "apóstolo" (!) é coisa muito, muito fácil, e praticamente estimulada pela nossa legislação, que inclusive oferece isenção de impostos a toda sorte de falsos profetas. Tanto é verdade quer, nos tempos atuais, "igrejas" são encaradas e geridas como se fossem empresas, verdadeiras máquinas de fazer dinheiro. Fundar "igreja" e se intitular a si mesmo de "bispo" é talvez o charlatanismo mais rentável de todos! Exemplos de patifes que amealharam imensas fortunas usando o santo Nome de Deus em vão e corrompendo o Evangelho são bem conhecidos. Infelizmente, pessoas ingênuas e desesperadas, sem nenhum conhecimento da fé e da verdadeira Igreja, nunca faltaram. A responsabilidade por essa situação, em parte é dos próprios presbíteros e bispos atuais, mas este é um outro problema muito vasto, que não nos compete analisar. Um dia, cada um de nós prestará contas diante do Justo Juiz. Por isso, católico, é de suma importância que você conheça o nosso passado, as nossas raízes, a história da verdadeira Igreja, e que preserve a memória cristã.

Em resumo, fora da sucessão regular dos Apóstolos não há verdadeiro episcopado, não há verdadeiro ministério, não há bispos e, menos ainda, "apóstolos". Não há Igreja de fato. Por esta razão, os chamados “bispos evangélicos" não são bispos, e suas “igrejas” não são igrejas. Dizer isto não é ser intolerante, nem rigoroso, nem grosseiro. É apenas e simplesmente falar a verdade. Ou será que para sermos gentis e tolerantes deveríamos ser coniventes com a mentira?

Já está mais do que na hora desses nossos irmãos saírem de sua falsa “redoma bíblica” e procurarem conhecer a verdadeira fé cristã, dos primeiros séculos, dos tempos em que a Bíblia Sagrada ainda nem estava definida, e que é a mesma fé de hoje e de sempre. Os que assim fizeram acabaram retornando para a primeira e única Igreja de Cristo, como aconteceu neste caso e em muitos outros.  –Pois Jesus é a Verdade, e Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. O que sempre foi Verdade não pode ser mentira agora.

Peçamos a Deus que nossos irmãos separados ditos "evangélicos" sejam libertos do subjetivismo e do engano. E que mais e mais católicos busquem conhecer melhor o tesouro que possuem na Igreja Católica, e deem o seu testemunho sempre que tiverem oportunidade para tanto.


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