sexta-feira, 4 de setembro de 2015

AMOR AUTÊNTICO COMPROMETIDO OU APENAS PAIXÃO PASSAGEIRA.COMO SABER?

 

Esse é o assunto sobre o qual São João Paulo II – então Karol Wojtyla 
se debruça na seção de seu livro, “Amor e Responsabilidade”, quando ele discute 
os dois aspectos do amor.

 De acordo com Wojtyla, existem dois aspectos do amor, e compreender a diferença é 
crucial para qualquer casamento, noivado ou namoro.

Quando um rapaz encontra uma garota, ele experimenta uma série de sentimentos e desejos poderosos 
em seu coração. Ele pode se encontrar fisicamente atraído pela beleza do corpo dela, ou se perceber pensando constantemente nela em uma atração emocional. Essa dinâmica interior do desejo sensual (sensualidade) e do amor emocional (sentimentalidade) molda em grande parte a maneira com que 
o homem e a mulher interagem um com o outro, e é isso que faz o romance, especialmente em seus 
estágios iniciais, ser tão emocionante para o casal envolvido.
Entretanto, esse é apenas um aspecto do amor, que não deve ser igualado ao amor no sentido mais pleno. Nós sabemos da experiência que podemos ter fortes emoções e desejos por outra pessoa sem necessariamente estar comprometido com ela, ou sem a pessoa estar verdadeiramente comprometida conosco em uma relação de amor.
É por isso que Wojtyla coloca o aspecto subjetivo do amor em seu devido lugar. 
Ele nos desperta e nos lembra que, não importa o quão forte experimentemos essas 
sensações, isso não é necessariamente amor, mas simplesmente uma “situação psicológica”. 
Em outras palavras, por si só, o aspecto subjetivo do amor nada mais é do que uma experiência 
prazerosa que está acontecendo dentro de mim.

 Essas emoções e desejos não são ruins, e podem se desenvolver dentro do amor, e até enriquecê-lo
mas não devemos vê-los como sinais infalíveis do amor autêntico. Wojtyla diz: “É impossível 
julgar o valor de um relacionamento entre duas pessoas meramente a partir da intensidade de 
suas emoções… O amor se desenvolve com base em uma atitude totalmente comprometida 
e totalmente responsável de uma pessoa para outra pessoa”; enquanto que ao mesmo tempo 
os sentimentos românticos “nascem espontaneamente das reações sensuais e emocionais. 
Um crescimento muito rápido e muito rico de tais sensações pode esconder um amor que falhou 
em se desenvolver” (Amor e Responsabilidade).
 
Direcionando o amor para as reações interiores

Os homens e as mulheres hoje são bastante suscetíveis a cair nessa ilusão de amor, pois o mundo 
moderno direcionou o amor para as reações interiores, focando-se primariamente no aspecto 
subjetivo, o  “amor hollywoodiano”, que nos diz que o amor será mais forte quanto mais forte 
forem nossas emoções. Wojtyla, entretanto, enfatiza que há uma outra faceta do amor que é 
absolutamente essencial, não importando quão fortes sejam nossas emoções e desejos.
 A esse aspecto ele chamou de “objetivo”.
Esse aspecto tem uma série de características objetivas que vão além dos sentimentos prazerosos 
que experimento no nível subjetivo. O verdadeiro amor envolve virtude, amizade, e a busca 
de um bem comum. No casamento cristão, por exemplo, marido e mulher se unem pelo bem 
comum de ajudarem um ao outro a crescer em santidade, aprofundar a união, e educar os filhos. 
Além disso, eles devem não apenas compartilhar esse objetivo em comum, mas possuir a virtude 
que os ajude a chegar lá.
É por isso que o aspecto objetivo do amor é muito mais do que um olhar interior para 
minhas emoções e desejos. É muito mais do que os prazeres que recebo da relação. 
Ao considerar o aspecto objetivo do amor, devemos discernir que tipo de relacionamento existe 
realmente entre eu e a pessoa que amo, e não simplesmente o que esse relacionamento significa 
para mim em meus sentimentos. A outra pessoa me ama mais pelo que sou ou me ama mais pelo 
prazer que recebe da relação?
Meu(minha) amado(a) compreende o que é verdadeiramente melhor para mim? Ele(ela) tem 
a virtude para me ajudar a chegar ao que é melhor para mim? Estamos profundamente unidos 
por um objetivo comum, servindo um ao outro e lutando juntos por um bem comum que é maior 
do que cada um de nós? Ou estamos na verdade apenas vivendo lado a lado, compartilhando
 recursos e ocasiões agradáveis enquanto cada um persegue egoisticamente seus próprios projetos 
e interesses na vida? Esse são os tipos de questões que apontam para o aspecto objetivo do amor.
Agora podemos ver porque Wojtyla diz que o verdadeiro amor é “um fato interpessoal”, não 
simplesmente uma “situação psicológica”. Um relacionamento forte está baseado na virtude e na 
amizade, não simplesmente em experimentar juntos sentimentos agradáveis e situações prazerosas. 
Como explica Wojtyla, “o amor enquanto experiência deve estar subordinado ao amor 
enquanto virtude – de tal modo que sem o amor enquanto virtude não pode haver
 plenitude na experiência do amor” (Amor e Responsabilidade).
 

Amor doação de si

Uma das marcas mais distintivas do aspecto objetivo do amor é o dom de si mesmo. 
Wojtyla ensina que o que faz o amor comprometido diferente de todas as outras formas de amor 
(atração, desejo, amizade) é que as duas pessoas “se doam” uma para a outra. As pessoas não 
estão apenas atraídas uma pela outra, e elas não desejam simplesmente o que é melhor para a outra. 
No amor comprometido, cada pessoa se rende completamente à outra pessoa. “Quando o
amor comprometido entra nessa relação interpessoal surge algo mais do que uma simples amizade: 
surgem duas pessoas que se entregam uma para a outra” (Amor e Responsabilidade).
De fato a idéia de amor auto-doação levanta alguns questionamentos importantes: como pode
 uma pessoa realmente se doar a outra? O que isso significa? Afinal de contas o próprio Wojtyla 
ensina que cada pessoa humana é completamente única. Cada pessoa tem sua própria mentalidade 
e sua vontade própria. No final, ninguém pode pensar por mim. Ninguém pode escolher por mim. 
Portanto, cada pessoa “é seu próprio mestre”, e não está disponível a ser entregue a outra pessoa. 
Então, em que sentido uma pessoa pode “se doar” a(o) seu(sua) amado(a)?
Wojtyla responde dizendo que é impossível para uma pessoa se doar a outra no nível natural e físico
mas na ordem do amor uma pessoa pode fazê-lo ao escolher limitar sua liberdade e unir sua vontade 
à da pessoa que ama. Em outras palavras, por causa do seu amor, uma pessoa pode na verdade 
desejar abdicar de seu próprio livre-arbítrio e ligá-lo ao da pessoa amada. Como Wojtyla diz, o amor 
“faz com que a pessoa queira exatamente isto – render-se ao(a) outro(a), à pessoa amada”.

 

A liberdade de amar

Por exemplo, considere o que acontece quando um homem solteiro se torna casado. 
Como solteiro, “Roberto” é capaz de decidir o que deseja fazer, quando deseja fazer, e como 
deseja fazer. Ele faz sua própria agenda. Ele decide onde vai viver. Ele pode se demitir de um 
emprego e se mudar para outra parte do país em um instante, se quiser. Ele pode deixar o 
apartamento uma bagunça. Ele pode gastar seu dinheiro do modo como quiser. E ele pode comer 
quando quiser, sair para onde quiser, e ir dormir quando quiser. Ele está acostumado a tomar 
sozinho as decisões de sua vida.

O casamento, entretanto, vai mudar de modo significativo a vida de “Roberto”. 
Se ele decide por conta própria se demitir do emprego, comprar um carro novo, viajar no final 
de semana, ou vender a casa, isso provavelmente não vai se encaixar muito bem com a vida da 
sua esposa! Agora que “Roberto” está casado, todas as decisões que ele estava acostumado a tomar 
por conta própria devem ser tomadas em união com sua esposa, e procurando o que for melhor 
para seu casamento e para sua família.
No amor de doação de si, um homem reconhece de modo profundo que sua vida já 
não é mais propriedade sua. Ele rendeu sua própria vontade à sua amada. Seus próprios planos
sonhos e gostos não estão completamente abandonados, mas agora eles são colocados em nova perspectiva. Eles estão subordinados ao bem de sua esposa e dos filhos que possam surgir do casamento. Como “Roberto” vai gastar seu tempo e seu dinheiro e como ele vai organizar sua vida já não
 é matéria de sua própria escolha pessoal. Sua família se torna o ponto de referência
primário para tudo que ele for fazer.
Essa é a beleza do amor doação de si. Como solteiro “Roberto” tinha grande autonomia 
– ele podia organizar sua vida como quisesse. Mas, por causa de seu amor, “Roberto” escolheu
 livremente abdicar dessa autonomia, limitar sua liberdade, comprometendo-se com sua esposa
 e com o bem dela. O amor é tão poderoso que o impele a desejar render sua vontade à sua amada 
desse modo profundo.
Realmente muitos casamentos hoje em dia seriam muito mais sólidos se ao menos compreendêssemos 
e nos lembrássemos do amor de doação a que originalmente nos comprometemos. Ao invés de 
perseguir egoisticamente nossas próprias preferências e desejos, devemos nos lembrar que quando 
fizemos nossos votos escolhemos livremente render – amorosamente desejamos render – nossas 
vontades ao bem do(a) nosso(a) esposo(a) e dos filhos. Como Wojtyla explica: “A forma de amor 
mais plena consiste precisamente na auto-doação, em fazer do inalienável e intransferível 
‘eu’ uma propriedade de outra pessoa” (Amor e Responsabilidade).

 

A lei do dom

Agora chegamos ao grande mistério do amor doação de si. No coração desse dom de si 
está uma convicção fundamental de que, ao render minha autonomia à pessoa amada, eu ganho 
 muito mais em troca. Ao unir-me com outra pessoa, minha própria vida não fica diminuída
 mas é profundamente enriquecida. Isso é o que Wojtyla chama de “lei do ekstasis”, ou 
lei da auto-doação: “O amante ‘sai de si mesmo’ para encontrar um existência mais plena 
no(a) outro(a)” (Amor e Responsabilidade).

Em uma época de vigoroso individualismo, entretanto, essa profunda afirmação de Wojtyla pode 
ser difícil de compreender. Por que devo sair de mim mesmo para encontrar a felicidade? 
Por que eu deveria me comprometer desse modo radical com outra pessoa? Por que deveria 
abdicar da liberdade de fazer o que quisesse com minha vida? Essas são as questões do homem moderno.
Entretanto, de uma perspectiva cristã, a vida não é para “fazer o que eu quiser”. 
A vida é para meus relacionamentos – é para encontrar a plenitude de meu relacionamento com 
Deus e com as pessoas que Deus colocou na minha vida. Na verdade, é aí que encontramos plenitude 
na vida: em viver bem nossos relacionamentos. Mas para viver bem nossos relacionamentos 
precisamos muitas vezes fazer sacrifícios, rendendo nossa vontade própria para servir ao bem dos outros. 
É por isso que descobrimos uma felicidade mais profunda na vida quando nos doamos desse modo
pois estamos vivendo do modo como Deus nos criou para viver, do modo como o próprio Deus vive: 
em um amor total, comprometido e de auto-doação. Como diz uma das passagens favoritas de 
Wojtyla retirada do Vaticano II: “O homem só se encontra ao fazer de si mesmo um dom sincero 
para os outros” (Gaudium et spes nr. 24).

Essa afirmação do Vaticano II se aplica especialmente ao matrimônio, onde o amor de auto-doação 
entre duas pessoas humanas se mostra mais profundamente. Ao me comprometer com outra pessoa 
em uma relação de amor verdadeiro eu certamente limito minha liberdade de fazer “o que quiser”. 
Mas ao mesmo tempo eu me abro para uma liberdade ainda maior: a liberdade de amar. Como 
explica Wojtyla: “O amor consiste em um compromisso que limita a liberdade da pessoa 
– é uma doação de si, e doar-se a si mesmo significa exatamente isso: limitar a própria 
liberdade em prol do(a) outro(a). A limitação da liberdade da pessoa pode parecer algo 
negativo e desagradável, mas o amor faz dessa limitação uma coisa positiva, criativa e 
cheia de alegria. A liberdade existe para que se possa amar” (Amor e Responsabilidade).
Portanto, enquanto o individualista moderno pode ver a auto-doação no matrimônio como algo 
negativo e restritivo, os cristãos veem tais limitações como libertadoras. O que eu realmente desejo 
fazer na vida é amar a Deus, minha esposa e meus filhos, e meu próximo – pois nesses 
relacionamentos encontro minha felicidade. E se eu existo para amar minha mulher e meus filhos 
e para viver totalmente comprometido a eles, eu devo evitar que meus desejos egoístas dominem 
minha vida e controlem minha casa. Em outras palavras, eu devo estar livre da tirania do
 “faço o que eu quero”. Só então é que sou livre para amar do modo como Deus me criou. 
Só então é que sou livre para ser feliz. Só então é que sou livre para amar.
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 http://catholiceducation.org/articles/marriage/mf0072.html

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