quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

COMUNICAÇÃO A SERVIÇO DA VIDA

Pixabay CC0

“Que a praça digital seja lugar de encontro, não de linchamento moral” 

A comunicação é antes de tudo um sinal de amor

portanto de misericórdia. 

  Porque a Igreja é chamada a viver “a misericórdia como marca característica de 

todo o seu ser e do seu atuar”, cada palavra ou gesto “deveria poder expressar a 
compaixão, a ternura e o perdão de Deus par todos”.
Com estes termos começa a mensagem do Papa Francisco para 50ª Jornada Mundial 
das Comunicações Sociais. Na linha do Jubileu, o tema escolhido para este ano pelo 
Santo Padre é: Comunicação e misericórdia: um encontro fecundo.
“O amor, por sua natureza, é comunicação, leva a abrir-se e não isolar-se – escreve 
o Papa na Mensagem -. E se o nosso coração e os nossos gestos são inspirados pela 
caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus”.
Todos os seres humanos, sem exceção nenhuma, são “chamados se comunicar como 
filhos de Deus com todos”, ou seja, transmitindo aquela “misericórdia” que pode 
“tocar os corações das pessoas e apoiá-las no caminho para a plenitude da vida”.

Todo cristão é, em outras palavras, chamado acolher e difundir ao redor de si o “calor 
da Igreja Mãe, para que Jesus seja conhecido e amado” para dar “substância às 
palavras da fé” e acender “na pregação e no testemunho a ‘faísca’ que os torna vivos”.
Através da comunicação, o homem pode “construir pontes” e “promover o encontro e 
a inclusão, enriquecendo assim a sociedade”. Escolhendo “com cuidado palavras e 
gestos”, os homens podem “superar as incompreensões, curar a memória ferida e 
construir paz e harmonia”.
As palavras, portanto, podem “construir pontes entre as pessoas, as famílias, os grupos 
sociais, os povos”, tanto no ambiente “físico”, quanto no “digital”. Para isso, o Papa 
exorta a “palavras e ações” que ajudem a “sair dos círculos viciosos das condenações 
e das vinganças, que continuam a prender os indivíduos e as nações, e que conduzem 
a expressar-se com mensagens de ódio”.
O cristão deve, então, expressar-se com palavras que fazem “aumentar a comunhão” 
e, mesmo quando deve “condenar com firmeza o mal”, deve procurar “nunca romper 
a relação e a comunicação”.

Os “ressentimentos” e as “velhas feridas” que correm o risco de “aprisionar as 
pessoas e impedir-lhes a comunicação e a reconciliação”, são encontradas também nas 
“relações entre os povos”, mas em todos esses casos “a misericórdia é capaz de ativar 
um novo modo de falar e de dialogar”.
A este respeito, Francisco cita Shakespeare, que, no Mercador de Veneza escreve:
 “A misericórdia não é uma obrigação. Cai do céu como um frescor da chuva sobre a terra. 
É uma bênção dupla: abençoa quem a dá e quem a recebe”.
 
A linguagem da misericórdia, deveria permear também a “política” e a 
“diplomacia”acrescenta o Papa, fazendo, assim, um apelo “à todos aqueles que 
têm responsabilidades institucionais, políticas e na formação da opinião pública, para que 
estejam sempre vigilantes sobre o modo de expressar-se com relação a quem pensa ou age 
de forma diferente, e também de quem pode ter errado”.
O desejo do Santo Padre é de uma linguagem que nunca expresse “o orgulho soberbo 
do triunfo sobre o inimigo”, nem a humilhação com relação “àqueles que a mentalidade 
do mundo considera como descartados e perdedores”.
A misericórdia deve, portanto, “oferecer calor a todos aqueles que só conheceram 
a frieza do juízo”, com um estilo comunicativo, capaz de superar aquela “lógica que 
separa claramente os pecadores dos justos”.

Se é verdade que é “nossa tarefa admoestar quem erra”, a fim de “libertar as vítimas” 
do mal e “levantar o caído”, nunca se pode “julgar as pessoas, porque só Deus pode 
ler profundamente em seus corações” .
A verdade que nos fará livres (cfr. Jo 8, 32) deve ser afirmada “com amor” e 
acompanhada com palavras de “mansidão e misericórdia” que toquem “os corações 
de nós, pecadores”. Pelo contrário, “palavras e gestos duros ou moralistas correm o 
risco de alienar ainda mais aqueles que queremos conduzir à conversão e à 
liberdade, reforçando-lhes o seu sentimento de negação e de defesa”.
 Em seguida, o Papa Francisco desmascara o mito de que “uma visão da sociedade 
enraizada na misericórdia seja injustificadamente idealista ou excessivamente 
complacente”. A verdadeira misericórdia pode ser explicada pelo modo como se vive 
o amor familiar: “Os pais nos amam e apreciam por aquilo que somos mais do que 
pelas nossas capacidades e os nossos sucessos – escreve Bergoglio  . 
Os pais naturalmente querem o melhor para os próprios filhos, mas o amor deles 
nunca é condicionado pelo cumprimento de metas”. Em uma verdadeira família
em outras palavras, não reina a competição, mas a porta é “sempre aberta” e 
“busca-se acolher-se mutuamente”.

Há também a “nunca fácil” dimensão da escuta, ou seja, da capacidade de 
“compartilhar perguntas e dúvidas, de percorrer um caminho lado a lado, de
 libertar-se de qualquer presunção de onipotência e colocar humildemente as próprias 
capacidades e os próprios dons a serviço do bem comum”.

Na escuta, explica o Pontífice, “realiza-se uma espécie de martírio, um sacrifício de 
si mesmo” que, no entanto, envolve “uma graça imensa”, portanto, é “um dom que é 
necessário invocar para depois exercitar-se em praticá-lo”.
Entrando no debate nas redes sociais e nas novas mídias, o Santo Padre recordou que 
“não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração 
do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios à sua disposição”.
Dependendo de como se utilizam, as redes sociais podem “favorecer as relações e 
promover o bem da sociedade” ou, pelo contrário, “levar a uma maior polarização e 
divisão entre as pessoas e os grupos. O ambiente digital – continua o Papa – é uma 
praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, ter uma discussão 
útil ou um linchamento moral”.
Mesmo em redes digitais pode se construir uma “verdadeira cidadania” e uma 
“sociedade saudável e aberta à partilha”: isso implica “uma responsabilidade com o 
outro, que não vemos mas que é real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada”.
Concretizando o tema da Jornada Mundial, Francisco insiste que “o encontro entra a 
comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gera uma proximidade 
que se preocupa, conforta, cura, acompanha e celebra”.
O Santo Padre conclui, então, a Mensagem recordando o quanto “em um mundo 
dividido, fragmentado, polarizado”, comunicando “com misericórdia” seja possível 
“contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e 
irmão na humanidade”.

 


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