sexta-feira, 18 de março de 2016

AS 7 FALSAS DEVOÇÕES À SANTÍSSIMA VIRGEM


Há cada vez mais falsas devoções a Nossa Senhora, e é fácil ]
tomá-las por verdadeiras. Em razão disso é muito importante 
conhecer: primeiro as falsas devoções à Santíssima Virgem para 
as evitar, e a verdadeira, para abraçá-la. Depois, importa 
distinguir entre tantas práticas diferentes desta última, qual a 
mais perfeita, a mais agradável à Santíssima Virgem Maria
aquela que dá mais glória a Deus e que é mais santificante para 
nós, para a Ela nos apegarmos.

Falsos devotos e falsas devoções à Santíssima Virgem Maria

Conheço sete espécies de falsos devotos e falsas devoções, a saber:


1. Os devotos críticos;

2. Os devotos escrupulosos;

3. Os devotos exteriores;

4. Os devotos presunçosos;

5. Os devotos inconstantes;

6. Os devotos hipócritas;

7. Os devotos interesseiros.

Os devotos críticos 

Os devotos críticos 
são, ordinariamente, sábios orgulhosos, espíritos fortes e 
que se bastam a si mesmos. No fundo têm alguma devoção à 
Santíssima Virgem Maria, mas criticam quase todas as 
práticas de devoção que as almas simples tributam singela 
e santamente a esta boa Mãe, porque não condizem com a 
sua fantasia. Põem em dúvida todos os milagres e narrações 
referidas por autores dignos de crédito ou tiradas das crônicas 
de ordens religiosas, e que testemunham as misericórdias e o 
poder da Santíssima Virgem.

Veem com desgosto pessoas simples e humildes ajoelhadas
 diante dum altar ou imagem da Virgem, talvez no recanto 
duma rua, para aí rezar a Deus. Acusam-nas até mesmo de
 idolatria, como se estivessem a adorar madeira ou pedra. 
Dizem que, quanto a si, não gostam dessas devoções 
exteriores, e que não são tão fracos de espírito que vão 
acreditar em tantos contos e historietas que correm a respeito 
da Santíssima Virgem. Quando lhes referem os louvores 
admiráveis que os Santos Padres tecem a Nossa Senhora
ou respondem que isso é exagero, ou explicam erradamente 
as suas palavras.

Esta espécie de falsos devotos e de gente orgulhosa e 
mundana é muito para temer, e causam imenso mal à 
Devoção a Nossa Senhora, afastando eficazmente dela 
o povo, sob o pretexto de destruir abusos.


Os devotos escrupulosos

Os devotos escrupulosos são pessoas que temem 
desonrar o Filho honrando a Mãe, rebaixar um ao
 elevar a outra. Não podem suportar que se prestem 
à Santíssima Virgem louvores muito justos, tais como 
os Santos Padres lhe dirigiram. Não toleram, senão 
contrariados, que haja mais pessoas de joelhos diante
 dum altar de Maria que diante do Santíssimo Sacramento. 
Como se uma coisa fosse contrária à outra, como se 
aqueles que rezam a Nossa Senhora não rezassem a 
Jesus Cristo por meio d’Ela! Não querem que se fale 
tantas vezes da Santíssima Virgem, nem que a Ela nos 
dirijamos tão frequentemente.

Eis algumas frases que lhes são habituais: Para que 
servem tantos terços, tantas confrarias e devoções 
externas à Santíssima Virgem? Há muita ignorância 
nisto tudo! Faz-se da religião uma palhaçada. Falem-me 
dos que têm Devoção a Jesus Cristo (freqüentemente 
pronunciam este Santo Nome sem a devida reverência
sem descobrir a cabe- ça, digo-o entre parêntesis). 
É preciso pregar Jesus Cristo: eis a doutrina sólida! 
Isto que dizem é verdadeiro num certo sentido; mas 
quanto à aplicação que disso fazem, para impedir a 
Devoção à Virgem Santíssima, é muito perigoso. 
Trata-se duma cilada do inimigo sob pretexto dum bem 
maior. Pois nunca se honra mais a Jesus Cristo do que 
quando se honra muito à Santíssima Virgem. A razão 
é simples: só honramos a Virgem no intuito de honrar 
mais perfeitamente a Jesus Cristo, indo a Ela apenas 
como ao caminho que leva ao fim almejado, que é Jesus.

A Santa Igreja, com o Espírito Santo, bendiz em primeiro 
lugar a Virgem e só depois Jesus Cristo: “Bendita sois 
Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre
Jesus” (Lc 1, 42). Não é que Maria seja mais que Jesus
ou igual a Ele: dizê-lo seria uma heresia intolerável. 
Mas, para mais perfeitamente bendizer Jesus Cristo
é preciso louvar antes a Virgem Maria. Digamos, pois
com todos os verdadeiros devotos da Santíssima Virgem
 e contra esses falsos devotos escrupulosos: 
Ó Maria, bendita sois Vós entre as mulheres e bendito 
é o fruto do Vosso ventre, Jesus!
 


Os devotos exteriores

Os devotos exteriores são pessoas que fazem consistir 
toda a Devoção à Santíssima Virgem em práticas externas. 
Ficam apenas na exterioridade desta Devoção, por lhes 
faltar espírito interior. Rezarão muitos terços às pressas
ouvirão muitas Missas sem atenção; irão sem devoção às 
 procissões; entrarão em todas as confrarias de 
Nossa Senhora sem mudar de vida, sem fazer violência 
às suas paixões, nem imitar as virtudes desta Virgem 
Perfeitíssima. Só apreciam o que há de sensível na Devoção
sem atender ao que tem de sólido. Se não experimentam 
prazer sensível nas suas práticas, julgam que já não fazem 
nada, desorientam-se, abandonam tudo, ou fazem as 
coisas precipitadamente.

O mundo está cheio desta espécie de devotos exteriores
e não há ninguém como eles para criticar as almas de oração. 
Estas aplicam-se ao interior, por ser o essencial, sem todavia
 desprezar a modéstia exterior que acompanha sempre 
a Verdadeira Devoção.


Os devotos presunçosos

Os devotos presunçosos são pecadores entregues às suas
 más paixões, ou amigos do mundo. Sob o belo nome de 
cristãos e devotos da Santíssima Virgem escondem ou 
o orgulho, ou a avareza, ou a impureza, ou a embriaguez
 ou a cólera, ou a blasfêmia, ou a maledicência, ou a 
injustiça etc. Dormem em paz nos seus maus hábitos, sem 
se esforçar muito para os corrigir, sob o pretexto de que 
são devotos de Nossa Senhora.

Dizem para consigo mesmos que Deus lhes perdoará, que 
não hão de morrer sem confissão e não serão condenados 
porque rezam o Terço, porque jejuam aos sábados e 
pertencem à confraria do Santo Rosário ou do escapulário
ou às suas congregações, ou porque trazem o hábito ou 
a cadeia da Santíssima Virgem etc. Se alguém lhes diz que 
a sua devoção não passa de ilusão do demônio e de perniciosa 
presunção capaz de os condenar, não querem acreditar. 
Dizem que Deus é bom e misericordioso, que não nos criou 
para a condenação, que todos pecam, que não morrerão 
 impenitentes, que um bom “Pequei” (2 Sm 12, 13; Sl 50)
 à hora da morte será suficiente.

E, para mais, são devotos de Nossa Senhora, usam o escap
ulário, rezam diariamente, sem falha e sem vaidade, sete 
Pai-Nossos e sete Ave-Marias em sua honra. E, às vezes
até rezam o Terço e o ofício da Santíssima Virgem, e até jejuam! 
Para confirmar o que dizem e para ainda mais se cegarem
citam algumas histórias que ouviram ou leram em algum 
livro, histórias verdadeiras ou falsas (isso pouco importa).

Nestas se conta como pessoas mortas em pecado mortal 
sem confissão, foram ressuscitadas para se confessarem
porque durante a vida tinham recitado orações ou praticado 
alguns atos de devoção à Santíssima Virgem. Ou ainda como 
a alma ficou miraculosamente no corpo até a confissão, ou 
obteve de Deus contrição e perdão dos seus pecados no 
momento da morte pela misericórdia da Virgem, sendo
 assim salva. E estes falsos devotos esperam o mesmo.

Nada é tão prejudicial no Cristianismo como esta presunção
 diabólica. Pois poder-se-á dizer, com verdade, que se ama e 
honra a Santíssima Virgem, quando se fere, traspassa, crucifica 
e ultraja impiedosamente Jesus Cristo, seu Filho, com o pecado?! 
Se Maria se comprometesse a salvar, por misericórdia, esta 
espécie de pessoas, autorizaria o crime, ajudaria a crucificar e 
ofender seu Filho! Quem ousará sequer pensar coisa semelhante?!

A Devoção à Santíssima Virgem é, depois da Devoção a 
Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, a mais santa e a mais sólida. 
Por isso afirmo: abusar assim dela é cometer um horrível sacrilégio 
que, depois do sacrilégio da Comunhão indigna, é o menos perdoável
 de todos. Concordo que, para ser verdadeiro devoto da 
Santíssima Virgem, não é absolutamente necessário ser tão santo 
que se evite todo pecado, embora isso fosse de desejar, mas
pelo menos, é preciso (e note-se bem o que vou dizer):

1º. Ter uma sincera resolução de evitar, ao menos, todo pecado mortal
que ultraja tanto a Mãe como o Filho. 2º. Fazer violência contra 
si mesmo para evitar o pecado. 3º. Entrar em confrarias, rezar 
o Terço, o Santo Rosário ou outras orações, jejuar aos sábados etc. 
100. Isto é duma utilidade maravilhosa para a conversão dum 
pecador, mesmo endurecido. Se o meu leitor está nesse caso
aconselho-o a que o faça, ainda mesmo que já tenha um pé no abismo. 
Faça estas boas obras unicamente com o fim de obter de Deus
por intercessão da Santíssima Virgem, a graça da contrição e do 
perdão dos seus pecados, e a graça de vencer os seus maus hábitos. 
Não as faça, porém, pensando que poder-se-á demorar
tranquilamente no estado de pecado, indo contra o remorso da 
sua consciência,o exemplo de Jesus Cristo e dos santos, e 
as máximas do Santo Evangelho.
 


Os devotos inconstantes

Os devotos inconstantes são aqueles que praticam alguma 
devoção à Santíssima Virgem a intervalos e por capricho: 
ora são fervorosos, ora tíbios; ora parecem dispostos a fazer 
tudo para servir Nossa Senhora, ora, e pouco depois, já não 
parecem os mesmos. A princípio abraçarão todas as devoções 
à Santíssima Virgem, entrarão em suas confrarias, mas 
logo depois já não praticarão as regras com fidelidade. 
Mudam como a Lua (Eclo 27, 12), e Maria esmaga-os sob 
os Seus pés como ao crescente (Ap 12, 1), porque são volúveis 
e indignos de serem contados entre os servos desta Virgem Fiel. 
Estes têm a fidelidade e a constância por herança. Mais vale 
não se sobrecarregar com tantas orações e práticas de devoção
 e fazer pouco com amor e fidelidade, a despeito do mundo, do 
demônio e da carne.


Os devotos hipócritas

Há ainda outros falsos devotos da Santíssima Virgem, que são 
os devotos hipócritas. Cobrem os seus pecados e maus hábitos
com a capa desta Virgem Fiel, a fim de passar pelo que não são 
aos olhos dos homens.

Os devotos interesseiros

Os devotos interesseiros só recorrem à Santíssima Virgem 
para ganhar algum processo, para evitar algum perigo, para 
obter a cura de alguma doença, ou para qualquer outra 
necessidade deste gênero, sem o que a esqueceriam. 
Uns e outros são falsos devotos, e não têm aceitação diante 
de Deus nem de sua Santa Mãe. Guardemo-nos das falsas devoções.

Evitemos, portanto, pertencer ao número dos devotos 
críticos, que não acreditam em nada e criticam tudo; dos 
devotos escrupulosos, que temem ser demasiado devotos da 
Santíssima Virgem, por respeito para com Jesus Cristo; dos 
devotos exteriores, que fazem consistir toda a sua devoção em 
práticas externas; dos devotos presunçosos, que, ao abrigo da sua 
falsa devoção à Santíssima Virgem, apodrecem nos seus pecados
dos devotos inconstantes que, por leviandade, variam as suas 
práticas de devoção, ou as deixam completamente à menor 
tentação; dos devotos hipócritas, que entram em confrarias e 
usam as insígnias da Virgem a fim de se passar por bons, e 
finalmente, dos devotos interesseiros, que só recorrem à 
Santíssima Virgem para ser livres dos males do corpo, ou obter 
bens temporais.

Foto A1: Selso Moraes
Extraído do Tratado da verdadeira devoção
a Santíssima  Virgem

São Luís Maria Grignion de Montfort

Aleteia

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